A abertura da novela das sete na Globo, “Os Sete Pecados”, traz Zélia Duncan na abertura cantando que “
É tão bom não ser divina/Me cobrir de humanidade me fascina/E me aproxima do céu".Concordo plenamente com a compositora. A humanidade me faz imperfeita e ao me livrar da visão cristã, que acopla a culpa ao pecado me fazendo sofrer , descubro as vantagens de ser humana.
Explico melhor: não faço a apologia do pecado, longe de mim tal transgressão, apenas me assumo pecadora, assim como todos as pessoas que conheço, uns mais outros menos.
Ao aceitar meus erros, sinto-me mais verdadeira e com menos culpa , um sentimento terrível. Todavia a aceitação não é fácil, muito pelo contrário.
Quando olho de frente os meus pecados, em ações, omissões e pensamentos, chego a me sentir muito mal. Não é nada aprazível a visão dos nossos porões.
Mas quando me esforço e visto a carapuça, assumindo o meu tamanho; a minha mediocridade, encontro-me com Deus, saindo renovada desse encontro.
Aceitar a inveja que pinta vez ou outra nas nossas vidas é muito desagradável, mas esse desconforto tem muito a ver com o nosso orgulho, com a imagem de perfeição que projetamos.
O mesmo acontece com outros pecados. A ira incomoda muito a quem se descontrola, poucas vezes isso me aconteceu, mas sei que é muito ruim a sensação que vem depois.
A gula, o mais doce dos pecados, provoca uma reação imediata em nossos corpos: a indigestão. A médio e longo prazo, o fantasma da obesidade aflige a todos que se excedem nos prazeres da mesa. Sou praticante convicta desse pecado e tenho mais dificuldade de classificá-lo assim.
A luxúria é tentadora. Mas ao contrário do que prega a maioria das religiões, não vejo o sexo como pecado. Pelo contrário, é muito saudável. Os excessos, sim, são problemáticos. Uma vida guiada apenas pelo prazer da carne traz conseqüências nocivas à vida de qualquer pessoa.
Ah, e a preguiça. Esse é o pecado mais fácil de conviver, no meu caso. Adoro um soninho a mais pela manhã. Levo horas lendo um romance e não gosto de atividades físicas. Mas quando motivada desempenho com competência minhas tarefas e tenho até prazer nas minhas caminhadas.
A avareza é uma coisa muito feia. Sei identificar de longe quem é mesquinho.E há mesquinhos de todos os gêneros; uns economizam dinehiro, outros sentimentos e outros, ainda, o próprio viver. Não cometo muito esse pecado, mas não o descarto, pois o exame de consciência levaria muito tempo agora. Desse eu passo sem ter muito que falar.
E chego à vaidade. Eita, que pecadinho presente e de forte tentação. Já escrevi sobre a soberba. Percebo-a de longe, nos outros e em mim. Piso no freio quando me sinto levada por ela. Olho para mim mesma e sofro um processo de introspecção desagradável. Às vezes da certo, outras não, mas continuo reagindo.
Bem, esse pequeno passeio pelos sete pecados capitais, foi só para dizer que assim com você não sou santa. Erro e muito, mas cresço quando localizo meus erros e os assumo. Liberto-me e sigo tentando melhorar.
Por isso, é uma delícia me reconhecer de carne e osso, bem distante da divindade e mais pertinho de Deus, pois Ele me conhece e me aceita assim.
Evelyne Furtado, em 27 de junho de 2007.
11 comentários:
É curioso: eu, que adoro Zélia Duncan (tenho toda a discografia), acho a canção mencionada por você uma das que mais me desagrada(rs).
Z. Duncan, em outra canção, escreveu: "Não me salvo porque não me acho". Diria eu: ainda bem! Manoel de Barros tem um verso ótimo: "Me procurei a vida inteira e não me achei, pelo que fui salvo".
Essas "viagens sobre si mesmo", como essa empreendida por você, na postagem, não fazem parte do meu estilo, ainda mais a reboque dos "pecados capitais", que a mim nada dizem.
Não estou "pertinho de Deus"; mas é bom saber que você é apenas humana. Já estava preocupado. Assim fico mais tranqüilo(rs). Um abraço.
Oi, Halem.
A música em questão foi o mote para falar dos pecados. Não é a minha preferida.
Ao contrário de você quero me sentir pertinho de Deus e essas viagens de autoconhecimento faço há anos, com terapeuta ou só.
Achei lindo e absolutamente verdadeiro o verso de Manoel de Barros citado por você. Acho-me e perco-me com freqüência.
Não tive em nenhum momento a pretensão de ser divina, quando falo em ser humana refiro-me à minha consciência da imperfeição, -que nem todos têm- e de que já me sinto bem assim, pois houve um tempo que me sentia mal por não ser tão boa assim.
Acho que você entendeu o que eu quis dizer.
Ainda bem que pensamos diferente, isso faz parte da convivência entre as pessoas.
Não sei se percebi uma certa ironia, mas tudo bem,rs.
Um abraço.
Entendi sim, Evelyne. E fui irônico mesmo. Mas acredito que vc sabe que o fui como recurso estiliístico, antes de qualquer outra coisa: só para fustigar o debate. Se assim não for, então para que escrever, não é verdade? Um abraço.
Halem
Que bom que você me provocou e que estou bem equilibrada hoje,rs. Sou extremamente sensível e reli para ver se tinha sido pretensiosa. Não fui e a prova disso é que escrevo num ímpeto e posto.
Essa postura tem a ver com a postagem , pois passei anos de minha vida escrevendo e rasgando pq meu texto não era tão bom quanto o dos autores que lia. Aí sim, era pretensiosa. Podendo errar, me exponho. Sendo imperfeita não é tão ruim pecar, sou apenas humana (rsrs) ou humana, demasiada humana, como diria Nietzsche.
Abraço.
Veca, pecado não sai de moda nem de nossa cabeça, é parte da cultura inoculada em nossa memoria forever
Pecados são só sete? ou setenta? ou legião? indiferença tvz seja um dos piores
gde abraço, seu blog tá lindo!
Tekka, doutora escritora
que bom receber sua visita, amiga!
Vivemos em pecado eu apenas citei os 7 capitais. Obrigada por sua visita.
Beijo grande.
Concordo totalmente, Vequi e vou transcrever trechos de uma poesia de Gioconda Belli q tem muito a ver, fala dos "maternos mandamentos" que nao sao outra coisa q aqueles q vamos herdando inculcados pela educaçao religiosa q nos enche de "culpas"
"Desde la mujer que soy,
a veces me da por contemplar
aquellas que pude haber sido;
las mujeres primorosas,
hacendosas, buenas esposas,
dechado de virtudes,
que deseara mi madre.
No sé por qué
la vida entera he pasado
rebelándome contra ellas.
Odio sus amenazas en mi cuerpo.
La culpa que sus vidas impecables,
por extraño maleficio,
me inspiran.
(...)
En esta contradicción inevitable
entre lo que debió haber sido y lo que es,
he librado numerosas batallas mortales,
batallas a mordiscos de ellas contra mí
-ellas habitando en mí queriendo ser yo misma-
transgrediendo maternos mandamientos,
desgarro adolorida y a trompicones
a las mujeres internas
que, desde la infancia, me retuercen los ojos
porque no quepo en el molde perfecto de sus sueños,
porque me atrevo a ser esta loca, falible, tierna y vulnerable,
que se enamora como alma en pena
de causas justas, hombres hermosos,
y palabras juguetonas.
(...)
Desculpa pq ficou longo demais! mas acho q vale!
beijos!
Isso, Laurita,somos imperfeitas: nem piores, nem melhores que as "piedosas e virtuosas"; talvez mais verdadeiras e um pouquinho mais livres.
Você entendeu perfeitamente o que eu quis dizer e me presenteou com um lindo poema. Obrigada, "hermanita"
Beijos
Evelyne,
Tão bom saber que vc além de ser do céu,da terra,do mar...também é da cidade do Sol,apesar de ser de carne e osso!!!Mas,Natalense é assim mesmo,sensível e visceral.
Parabéns!!!
Cheiro aroma de mangaba.
Lady Vania.
Sol, mar, sal,carne, osso e managaba. Tudo a ver com Natal e com natalenses. Obrigada pela visita, Abraços.
Postar um comentário