sábado, dezembro 16, 2006

O Diabo Veste Prada?

Acabei de ler a lista dos melhores filmes do ano, pela jornalista e crítica Ana Maria Bahiana e achei oportuno publicar o que escrevi quando assiti a produção em outubro passado.O filme O Diabo Veste Prada, baseado em best seller homônimo, mostra os bastidores de uma revista de moda e seus impulsos espúrios. Meryl Streep, na minha opinião modesta, a melhor atriz viva de Hollywood, é a viga que sustenta o filme. Está lá numa elegância irretocável e sua atuação dá a respeitabilidade ao que poderia ser apenas mais um filminho.Claro que nós, principalmente as mulheres, somos seduzidas pelo apelo da moda e mais ainda pelas locações em uma Paris estonteante.Porém vi mais do que isso na película.
Miranda, a personagem central do filme, vivida pela magistral Meryl Streep, é a poderosa editora da revista e esconde em figurino chic e gestos finos, uma mulher capaz de tudo para conservar o poder.Desrespeita todos a sua volta e apesar do inferno da sua vida pessoal sustenta-se na ilusão de que tudo é permitido para se manter “onde qualquer pessoa gostaria de estar” .
Bem, até aqui o diabo é a vaidade e veste Prada, Dolce e Gabbana, Versace e outras griffes. Pecado capital, usado para reforçar baixa auto-estima dos que precisam de símbolos que os valorizem. Esses são terrivelmente frágeis e ao ostentarem seus troféus , expõem suas fraquezas.
Toda arrogância traz em seu bojo, inseguranças e incertezas. Pequenez e pouco amor. É preciso gritar para que sejam ouvidos. É preciso banhar-se em ouro para serem vistos e valorizados. É preciso um carro novo, para mostrar eficiência ou força.
Mas não nos enganemos, o diabo também veste farrapos e usa uma falsa humildade para afrontar. Usa a ignorância para se sobressair. Usa a miséria para sobreviver.
Não falo aqui dos miseráveis que desconhecem algo além da sobrevivência diária; falo dos que usam trapos para seduzir, ofender, iludir.E estes existem apesar de suas presunções serem menos visíveis.
A vaidade é salutar. Gostar de si mesmo , e portanto do seu igual,quem cuida de sua aparência, quem gosta de bons pratos, boas roupas, bons vinhos, bons restaurantes, bons carros.
O pecado está nos extremos. Naqueles que só vestem griffes e as transformam em deuses, mas também naqueles que nos afrontam com o desleixo.
Padece de vaidade doentia o intelectual que precisa ser reconhecido a qualquer custo e o que se mantém na contra-mão da mídia, dizendo-se superior por não necessitar de reconhecimento.
Ambos são ávidos pelo aplauso, um o busca incessantemente o outro o desdenha com medo da rejeição.
Todos nós usamos seda ou chita para chamarmos atenção para nós mesmos em alguma fase da vida. Somos carentes sim do afago, todavia tenho a impressão que o melhor caminho é aceitação da nossa incompletude, da nossa humanidade que nos faz sedentos da aprovação dos nossos semelhantes.
É sempre bom lembrar que a “humildade é a verdade”, como simplesmente concluiu Santa Tereza d’Ávila.


Evelyne Furtado

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