Durante uma conversa por telefone com uma amiga de outra cidade, seu filho Vitor, de cinco anos, pede para falar comigo:
- Oi, Tia Veca!
_Oi, meu lindo. Tudo bem?
_ Tudo bem. Sabe, tia Veca, quando você me encontrar de novo eu vou estar bem grande.
- Claro que sei e mais bonito.
- É. Vou estar mais bonito, também, tia Veca.
Despedi-me do menino grande e lindo. Morrendo de rir voltei a falar com a mãe.Lembramos que da última vez que estiveram aqui em Natal, em janeiro passado, ele havia dito para a mãe que achava que seria, quando fosse "grande",o homem mais bonito da cidade.
-E aí, Veca, o que faço?
- Amiga, não faça nada. Ele é lindo mesmo e muito simpático. A vida se encarregará dos puxões de orelha na auto-estima dele. Vocês, pais inteligentes e amorosos, darão os limites, porém sem podá-lo.
Vitor é um fofo mesmo com toda essa espontaneidade. O diálogo acima aconteceu essa semana e me deu o mote para escrever esse texto.
Do que vivi, li e vi conheço um pouco sobre auto-estima e de uma coisa tenho certeza: a forma como os pais, ou na falta desses , aqueles que os substituem, olham para as crianças é determinante na formação do amor e no respeito que elas nutrem por si próprias e pelos outros.
Críticas constantes, exigências em excesso e comparações são destruidoras de auto-estima. Não que nós pais tenhamos que passar a mão na cabeça dos filhos após um erro cometido. Mas podemos usar diálogos e limites, sem ridicularizá-los, sem diminuí-los, nem castigá-los infundadamente e nunca, mas nunca mesmo, devemos compará-los com irmãos ou com outras crianças.
Incentivar, elogiar um feito, compreender as limitações de cada criança, repreendê-las com firmeza e afeto é educá-las para serem mais felizes.
Uma auto-estima boa pode ser reconstruída e existem métodos vários para isso. Desde fazer uma lista com nossas virtudes a procurarmos um bom terapeuta ( no caso estou do outro lado do divã, mas me interesso muito pelo assunto).
Não acredito que uma seqüência de cirurgias plásticas recupere ou construa a auto-estima de ninguém, mas poder usar esse recurso para melhorar algo que incomoda na aparência pode ser muito bom.
Tenho a minha maneira de lidar comigo mesma e sei dos altos e baixos que percorro em minha caminhada. Ninguém sai impune de um mau julgamento, de uma rejeição ou de uma demissão, o que nos difere é a maneira como reagimos a esses fatores e a auto-estima tem tudo a ver com isso.
Amor próprio é o que sentimos por nós mesmo. Fácil? Não para todos. Não para mim. Tem dias que me amo mais, em outros menos. Auto-estima é gostar da gente do jeito que a gente é: aceitando, errando e aprendendo, caindo e levantando.
Não confundo essa relação comigo mesma com aquela versão amarga de amor próprio. Não acho que tenha que passar a odiar ou deixar de falar com quem me foi muito querido e me feriu, para mostrar que sou melhor. Isso para mim é orgulho besta, arrogância e pouco respeito pela vida.
Prefiro insistir, tentar entender, dizer o que penso, mesmo que seja discutindo, aliás uma discussão pode ser mais muito saudável do que o silêncio. Eu sofro e peço perdão. E daí? Com o tempo refaço-me. É assim que me amo e amo a quem me é importante.
Quando não dá para reverter, leva mais tempo, mas sei que passará. Não tenho o poder de transformar ninguém, se mudar a mim mesma é tarefa complicada, contudo terei a certeza de que fiz tudo para apaziguar.
Enquanto isso vou me cuidando da melhor maneira que posso. E tentando cuidar dos meus com um olhar carinhoso. Por isso, amiga, deixe Vitor se sentir assim. Ele é uma criança encantadora e reflete o amor em seus contatos com as outras pessoas. Até mesmo com a tia que só vê de ano em ano.
Evelye Furtado, 04 de setembro de 2008.
Um comentário:
Oh que menino fofo.
Pois é, querida, tem toda a razão, a auto-estima para ir por aí baixo é num instante, agora levantá-la é que é difícil. Infelizmente é o que não falta são pessoas com a auto-estima tão em baixo que muitas vezes até ficam doentes.
Mas gostei muito deste seu post.
Beijinhos
Postar um comentário