A partir de 1º de janeiro de 2009, passará a vigorar a tão discutida e pouco esclarecida reforma ortográfica. O objetivo é uniformizar a grafia das palavras em todos os países de língua de portuguesa.
Assim passarei a fazer meus autorretratos e a ter meus momentos antissociais. Não usarei os hifens e finalmente não me culparei por esquecer os tremas, embora os ache bonitinhos:comerei linguiça e pronto.
Direi que lhe perdoo, sem acento circunflexo e sem muito drama. Continuarei apta a perdoar e abrirei espaço para mais perdões verdadeiros.
Vou ter que me informar sobre a reforma, pois bem ou mal eu escrevo e deverei ter cuidado para não errar mais do que erro.
A preocupação fica por aí. Ainda bem que não tocaram na palavra que mais gosto de escrever. Amor continuará a ser amor do jeitinho que é grafado hoje.
Ainda que alterassem a grafia da palavra, em essência o amor não mudaria e permaneceria a entrar porta a dentro sem pedir licença.
Ah, gramáticos não afetam e nunca afetarão o amor que é soberano e indomável.
Com ou sem legislação não deixarei de conjugar esse verbo com a voz do coração. Eu amo mesmo quando o sentimento é latente e descansa.
"Tinha suspirado, tinha beijado o papel devotamente!
Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades,
e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas, como um corpo ressequido
que se estira num banho tépido; sentia um acréscimo de estima por si mesma,
e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante,
onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada passo conduzia um êxtase,
e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações!"
Eça de Queiroz, em O Primo Basílio.
Evelyne Furtado
Publicado no Recanto das Letras em 29/12/2008
Código do texto: T1358814
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