domingo, novembro 30, 2008

Ausência de Sentimentos.




A leitura de O Estrangeiro, obra de Albert Camus, chocou-me pela ausência de sentimentos do protagonista que não chorou a morte da mãe.

A vida de um trabalhador comum é interrompida pelo comunicado do falecimento de sua mãe em um asilo fora de Argel.

Mersault, o protagonista, não se comove em momento algum. Comparece ao funeral e se não sente, não finge sentir. Ganha com isso a defesa do seu prórpio criador que diz: "Em nossa sociedade, qualquer homem que não chore no funeral de sua mãe, corre o risco de ser sentenciado à morte". Eu apenas quis dizer que o herói do meu livro é condenado porque não joga o jogo. Sob este aspecto, ele é estrangeiro para a sociedade em que vive; ele vaga na borda, nos subúrbios de uma vida privada, solitária e sensual.

Esse anti-herói sincero foi exaltado pelo criador do romance do absurdo, que seduz o leitor quando ao fim é julgado por um crime cometido em um raro momento de impetuosidade.

Sua condenação se dá exatamente por não ter chorado a morte da mãe, uma vez que até a promotoria inclina-se à sua abolvição, afinal ele é branco, assim como o juri e havia matado um árabe, na Argélia colonizada pela França.

A honestidade de Mersault, negando-se a afirmar que sofrera a perda da mãe leva-o à condenação.

A sinceridade do protaginista é sua virtude, concordo; a frieza diante da vida o torna desumano.

Não faço uma resenha, faço divagações sobre a condição humana e os homicídios praticados por gente que deveria amar os que estão mais próximos de si .

Foi durante um programa de tv , onde especialistas debatiam crimes desse naipe e as personalidades dos seus agentes, que lembrei de O Estrangeiro e percebi que existem pessoas como Mersault.

Terminando sua participação no debate uma psiquiatra disse que o bem nega a existência do mal para se proteger.

Eu também não levaria uma pessoa sem sentimentos para a minha casa, como disse Dra. Ana Beatriz B. Silva ao se referir à adolescente que matou o pai e a mãe.

Não havia sentimentos naquela menina quando foi ao motel depois de matar seus pais, da mesma forma que não havia no personagem de Camus quando não chorou a morte da mãe.

2 comentários:

Celamar Maione disse...

"o bem nega a existência do mal para se proteger." Frase sensacional.
Gostaria muito de ter visto o programa.
O tema do livro é muitooooooo interessante.
Beijão e boa semana

Evelyne Furtado. disse...

Oi, Cel!
Enquanto via o Sem Censura eu lembrava de O Estrangeiro (livro que vc lê em sem parar procurando entender o personagem) e dai nasceu o texto. Eu que sempre fechei os olhos para o mal tive o insight.
Obrigada, amiga.
Beijos e boa semana!