A cada dia tenho mais consciência das diferenças entre homens e mulheres. Às vezes chego a não ver solução nos relacionamentos amorosos, em face dessas desigualdades, mas a esperança persevera. Uma série de livros nos mostram os conflitos entre os gêneros. Nós mulheres viemos de Vênus e nossos homens de Marte, o que sugere uma distância cósmica.
Complexo de Cinderela, de Colette Dowling, livro ícone na década de 80, persegue-me até hoje e faz uma confusão enorme no meu íntimo, pois não me decido entre esperar o príncipe ou fugir deste. Mais tarde li O Erotismo, obra de Francesco Alberoni, filósofo italiano que quase me levou ao desespero, pois ali as distinções eram tão nítidas e cruéis, para nós mulheres, que me pareceu ser a única solução para uma união duradoura, voltarmos a ser esposas semicastas e compreensivas.
Aliando a informação à observação, chego a ficar triste, pois é como se seguíssemos na vida por caminhos opostos. Buscamos intimidade, eles fogem dela; queremos continuidade, eles desejam conquistas; damos mais ênfase à qualidade do sexo, eles adoram a variedade. Há ainda uma série de atitudes que caracterizam o mundo feminino e masculino e ao contrário do que eu pensava não resultam apenas de causas culturais.
Os hormônios dão matizes importantes às manifestações comportamentais dos dois gêneros. Nós mulheres somos guiadas por uma dança hormonal ao longo das nossas vidas. Dependendo da fase do mês, somos sedutoras e atraentes; acolhedoras e introspectivas; irritadiças e choronas. Os homens seguem linearmente, com poucas variações hormonais, desde a infância até a senectude.
As ondulações dos hormônios para eles se dão através dos anos e não dos ciclos lunares. Visto assim, parece impossível uma relação romântica duradoura e saudável entre homens e mulheres sem o uso da submissão, da manipulação ou de jogos "amorosos". Nesse ponto entra o imponderável.
Nós somos os únicos animais capazes de amar e por mais que a ciência tenha se aprofundado no conhecimento da espécie humana, ninguém conseguiu explicar o amor. Fala de amor o poeta, o músico, o romancista. Fala do amor o amante. Fala sobre o amor quem ama ou amou um dia. Sabe o que é o amor a adolescente, o homem e a mulher, o negro, o branco, o senhor e a senhorinha que um dia amou. Pois é, fala-se. Especula-se.
Criam-se teorias, mas o amor continua inexplicável e na maioria das vezes incontrolável. Há os que condenem o amor romântico, que o responsabilize pela inércia ou mesmo pela escravidão do indivíduo diante da vida. Todavia, como mulher moderna, porém sonhadora e romântica, ainda aposto no milagre do amor. O amor torna possível a convivência, supera obstáculos, adoça o mau-humor, perdoa as faltas, embeleza o feio, apara arestas e estimula o apetite sexual (?).
Talvez, esteja nas diferenças, o segredo. Precisamos conhecer o outro e amá-lo. Necessitamos do que nos falta e não do que temos em excesso. Contrariando os pensadores modernos, creio que seja benigno buscarmos a completude em alguém, sem depreciarmos as afinidades que são essenciais e é importante que o outro nos acrescente no que nos falta.
Quem sabe um esforço para reconhecer as diferenças, ampliar a compreensão do outro, exercitar a humildade e respeitar o ser amado como indivíduo único, e merecedor da felicidade, não tornem a relação amorosa uma excelente aliada na nossa caminhada de vida no planeta terra? Tomara que sim!
Texto Publicado no Portal Comunique-se em 22 de janeiro de 2008.
2 comentários:
Amei o seu texto está muito bem escrito.
Na minha modesta opinião ainda bem que há diferenças entre homens e mulheres, se fossemos todos iguais devia ser uma chatice. Mas realmente o que importa aqui é o amor, porque quando há amor verdadeiro e cumplicidade tudo se ultrapassa. Muitas vezes os casais caem na rotina e é um dos caminhos para matar o amor. Há que "regá-lo" todos os dias e isso parte dos dois. Se começa cada um a puxar o barco para o seu lado há zanga na certa e isso, como calcula, não é bom. Há que haver confiança, cumplicidade e muito amor. E mais não digo senão chama-me muito chata e eu não o quero ser.
Beijinhos querida
Chata? Nunca!
Adorei seu comentário que vem ao encontro do que penso, Ana!
Muitos beijos e obrigada.
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