"O perdão é uma necessidade absoluta para a continuidade da existência humana". A frase, dita pelo bispo da Igreja Anglicana Sul-Africana, Desmond Tutu - Prêmio Nobel da Paz, nos oferece a importância do perdão para a boa convivência entre os seres humanos. A citação acima está inserida no sentido macro do ato de perdoar. O Bispo Tutu preocupa-se com toda a humanidade, partindo de sua experiência antiapartheid, demonstrando, assim, a largueza do seu gesto, uma vez que ele próprio nasceu negro em um país que praticou a segregação racial até bem pouco tempo. As religiões judaico-cristãs pregam o perdão, e uma das atitudes mais significativa nesse sentido foi o perdão do Papa João Paulo II àquele que tentou assassiná-lo. Um ato de amor e grandeza espiritual. Da visão macro à minha visão. Em mim os ódios não frutificam. As raivas, sim. E as exponho. Já guardei muitas mágoas, o que me fez muito mal. Porém sempre busquei a libertação desses sentimentos. Não por ser superior ao outro, mas pela minha própria paz de espírito. Fui muitas vezes magoada e, por certo, também magoei. A impressão que tenho é que a minha dor é maior; de que eu não merecia aquele tratamento, pois sou uma pessoa conciliadora e afável. Ainda assim, eu busco o perdão. Se quem me feriu, foi por mim amado, é questão do tempo o perdão. Refiro-me às relações mais próximas, aquelas entre familiares, amigos e amores. Eu trabalho esse perdão e procuro alforriar a mágoa em meu peito. Na maioria das vezes consigo, ainda que nem sempre seja fácil. O perdão é o amor em exercício. O amor no sentido maior. Quando eu perdôo, estou praticando o amor, embora esse ato não signifique passar uma esponja no que ocorreu. Não trato aqui do perdão Divino, portanto, algumas vezes, não conseguimos conviver da mesma forma com quem nos feriu. Nesse campo das emoções humanas, uma das formas mais difíceis do ato de perdoar é a prática do auto-perdão. Para que eu me perdoe, preciso aceitar que errei: assumir minha falha e entender que é essa falibilidade que me faz humana. Se eu feri, conscientemente ou não, peço perdão. Reconheço meus limites e espero. Reflito que talvez seja mais difícil pedir para ser perdoado, pois o orgulho fala mais alto, todavia, não custa exercitar e começar aceitando o erro para, em seguida, se dirigir ao outro, em um ato de humildade.Quanto ao auto-perdão, que é diferente da indulgência, o pratico todos os dias, quando me reconheço menor que Deus e sinto que a misericórdia Dele é maior do que tudo que conheço. Não almejo o púlpito ou a santidade. Estou longe de ser santa. Trato apenas da experiência de vida e de uma leitura um pouco mais ampla da difícil arte de viver. Já tomo os meus venenos diários, portanto, dispenso o rancor e me liberto através do perdão. Ah, é importante dizer que não sou Madre Tereza, nem Irmã Paula, portanto, não batam muitas vezes. Não oferecerei a outra face com tanta freqüência.
Evelyne Furtado,
Texto Publicado na Gazeta do Oeste, em 11 de novembro de 2007.
Arrebentação
Há 4 semanas
3 comentários:
é pela luz que se rompe o escuro e pelo outro que o sorriso desponta...do espelho vem o gesto repetido...e a mão dele não se pode tocar...
um abraço
Eu esforço-me por ser sempre boa pessoa, mas quando não sou e são muuuuuuiiiiiitttttas as vezes, tento não me martirizar muito com isso.
Beijinhos
CM: muito bonito o que vc falou. Como sempre. Bjs
Mariita: melhor não se martirizar mesmo, querida. Somos pessoas e não anjos.
Obrigada e beijinhos.
Postar um comentário